segunda-feira, 7 de maio de 2012

Montes Altos: na seção da “matança”

Montes Altos é uma pacata cidade da região tocantina maranhense, localizada às margens da MA-280, a 66 km de Imperatriz; habitada eminentemente por homens e mulheres trabalhadores do campo, sobrevivem da agricultura de subsistência e do comércio local. Um povo pobre, mas aparentemente feliz. Até ser inaugurada no ano de 2011 uma sequência de episódios que chamaremos aqui de “seção da matança”.
Desde o ano passado a população montealtense vive um verdadeiro pesadelo causado pela onda de violência que assola o cotidiano daquele povo. Uma sequência de mortes violentas que alterou o clima de tranquilidade que as pessoas experienciavam até então.
Começou com a morte prematura da jovem morta a facadas pelo ex-marido no primeiro semestre do ano passado, depois foi o Sr. Claudivan Rocha, morto no mês de julho, num estabelecimento comercial de propriedade do acusado da autoria do crime; em seguida foi a vez do vendedor de pasteis, conhecido como Gaúcho, vítima de arma branca, o crime ocorreu na avenida principal da cidade; logo depois o mais chocante de todos: a morte do garoto Michael Barros, de apenas 5 anos de idade, que foi assassinado covardemente enquanto dormia na casa dos pais no bairro da Pitombeira. Houve um recesso, a poeira baixou. Agora me chega a informação que o fenômeno da morte, fruto da animalidade humana, voltou. A morte de um agricultor em um bar da cidade, foi o desfecho de um bate-boca banal entre beberrões, comuns na cidade. Será mais uma seção do filme de terror que vivenciamos em 2011? Pior de tudo é a inércia por parte das autoridades constituídas.
Quando pensávamos que estávamos respirando o cheiro das pétalas da paz, somos surpreendidos pelo odor escangalhado da violência brutal do homem contra si mesmo. A vida parece uma realidade banal. A violência “escangalhada”, que já atingiu as diversas faixas etárias e classes sociais, provoca um sentimento coletivo de abandono, um clamor popular por justiça e paz.
Ao experienciar as brutalidades que coincidiram com a morte de tantas pessoas, aquele povo parece sentir um vazio profundo, onde o “nada” é o conceito que melhor traduz essa realidade subjetiva que se universalizou. A experiencia nadificante da morte não abre espaço para a uma atitude de recomeço na vida daquelas pessoas, pois não encontram no meio civil um ponto de ancoragem que permita uma reconstrução dos valores pervertidos dentre esses acontecimentos. Basta!
Dessa maneira, resta apenas o apoio eclesiástico para fornecer um guindaste de ânimo àquelas criaturas, que vivenciam uma realidade estonteante. A igreja católica ainda é a instituição que agrega manifestantes para um grito que ecoe para além das margens do angical. Parece que aquele vilarejo que se formou às margens do córrego angical, através da produção de cachaça, se transformou num cenário dos filmes de bang-bang. Qualquer repúdio a essa “seção da matança” é legitimado pela religião católica, que defende a vida em plenitude.


Luciano N. Fernandes
Seminarista da Diocese de Carolina, 3º ano de Filosofia

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