sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pe. Dário Bossi, MCCI é notícia na Itália e no Brasil

Pe. Dário Bossi, missionário comboniano que trabalha na Paróquia São João Batista (Açailândia-MA), Diocese de Imperatriz, foi notícia na Itália no jornal Corriere della Serra. A notícia foi traduzida e publicada no Brasil pelo IHU-OnLine do Instituto Humanitas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, dos jesuítas do Rio Grande do Sul.


 O PADRE QUE FREIA A FERROVIA

O paralelismo com o episódio bíblico é tão óbvio que o padre Dario Bossi (foto) ouviu-o ser relembrado várias vezes nos últimos tempos: "Desculpe-me, padre, mas agora você não se sente um pouco como Davi depois do confronto com o gigante Golias?". Ele reflete, sopesa as palavras, e depois, com grande humildade, mas também com imensa satisfação, admite: "Sim, mas eu não estive sozinho nessa batalha: foram muitos aqueles que puxaram a funda". E Golias acabou no chão.

A reportagem é de Alessandra Mangiarotti, publicada no jornal Corriere della Sera, 08-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O gigante abatido pelo pequeno missionário comboniano que chegou ao Brasil vindo de Varese, na Itália, é o gigante da mineração Vale, ao qual um juiz, Ricardo Macieira, intimou a suspender os trabalhos de ampliação da sua linha de Carajás: 900 quilômetros de ferrovia, das minas de ferro da empresa até o porto de São Luís, atravessando o Estado amazônico do Pará.

"Um projeto de 28 bilhões de dólares que – explica o padre Dario por telefone –, com a abertura de novas minas imensas e a ampliação do porto, havia sido aprovado como uma pequena intervenção que, por isso, pode escapar da avaliação de impacto ambiental e do consenso da população". Para dar uma ideia de como são "pequenas" essas obras, o missionário acrescenta: "Hoje, nessa linha, viajam todos os dias 24 trens de 330 vagões. Amanhã, uma vez duplicada a ferrovia, eles gostariam de transitar um comboio a cada 25 minutos, 58 por dia. E como cada trem, com a sua carga de ferro, poluição e barulho, tem quatro quilômetros de comprimento, e a sua passagem dura cinco minutos, isso significa sequestrar todos os dias um quinto de vida das pessoas que vivem ao longo desses trilhos". Como os 104 mil habitantes de Açailândia, no Maranhão, onde o padre Dario Bossi tem a sua missão.

"E, em particular, as 380 famílias do bairro de Piquiá de Baixo – diz – ameaçado pelos alto-fornos, sem filtros, onde é processado pig iron, o ferro dos porcos, de tão poluente". Ele chegou aqui, "terra do conflitos gerados por uma exploração forte que anula o futuro", há cinco anos, depois de seis anos passados com os jovens de Pádua e outros quatro vividos em São Paulo, ao lado dos jovens em conflito com a lei.

Ele tem 40 anos e partiu ainda muito jovem de Samarate, cidade de 16 mil habitantes do Varesotto, seguindo as pegadas de um frade do lugar que se tornou quase um santo no Brasil. "O padre Daniele, falecido em 1917 entre os leprosos. Era o meu destino vir até aqui". E aqui ele encontrou a batalha dos habitantes dos 27 municípios, 100 comunidades ao todo, que convivem com a ferrovia. "Acima de tudo, nativos quilombolas, descendentes dos escravos africanos, que sofrem mais do que os outros o impacto desse neocolonialismo que saqueia sem dar".

No seu blog, o padre Dario escreveu: "O rio Pindaré desce lenta e amplamente, no inverno, ao lado de vilarejos no profundo interior deste nosso Maranhão. Grupos de famílias se instalaram nas terras às margens do rio: uma pequena reforma agrária que interrompe, com lacunas, as terras de fazendeiros. Perto da margem corre em paralelo um outro fluxo: a ferrovia da Vale, que transporta 300 mil toneladas de minério de ferro por dia para exportação. Esse trem do lucro não se detém, não conhece obstáculos. Subverte, mata, desperta com o seu barulho ensurdecedor e racha as paredes de barro de casas em meio às quais ele passa".

Assim, quando os trabalhos pela duplicação começaram, ele apresentou um recurso juntamente com o Conselho Indigenista Missionário, à sociedade dos direitos humanos do Maranhão e ao Centro de Cultura Afro, com a bênção da Rede Justiça nos Trilhos. O juiz estabeleceu que esses trabalhos deviam ser imediatamente suspensos, porque a licença concedida à Vale pelo Instituto do Meio Ambiente era irregular. E tudo foi suspenso.

Agora, é esperado um novo veredito de segundo grau. E Davi, o missionário que chegou ao Brasil vindo de Varese, já tem no bolso as outras quatro pedras coletadas no rio para se preparar para as próximas batalhas com o gigante de ferro.
 http://www.ihu.unisinos.br/noticias/512276-o-frei-que-freia-a-ferrovia

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