Montes
Altos: na seção da “matança”
Montes
Altos é uma pacata cidade da região tocantina maranhense,
localizada às margens da MA-280, a 66 km de Imperatriz; habitada
eminentemente por homens e mulheres trabalhadores do campo,
sobrevivem da agricultura de subsistência e do comércio local. Um
povo pobre, mas aparentemente feliz. Até ser inaugurada no ano de
2011 uma sequência de episódios que chamaremos aqui de “seção
da matança”.
Desde o
ano passado a população montealtense vive um verdadeiro pesadelo
causado pela onda de violência que assola o cotidiano daquele povo.
Uma sequência de mortes violentas que alterou o clima de
tranquilidade que as pessoas experienciavam até então.
Começou
com a morte prematura da jovem morta a facadas pelo ex-marido no
primeiro semestre do ano passado, depois foi o Sr. Claudivan Rocha,
morto no mês de julho, num estabelecimento comercial de propriedade
do acusado da autoria do crime; em seguida foi a vez do vendedor de
pasteis, conhecido como Gaúcho, vítima de arma branca, o crime
ocorreu na avenida principal da cidade; logo depois o mais chocante
de todos: a morte do garoto Michael Barros, de apenas 5 anos de
idade, que foi assassinado covardemente enquanto dormia na casa dos
pais no bairro da Pitombeira. Houve um recesso, a poeira baixou.
Agora me chega a informação que o fenômeno da morte, fruto da
animalidade humana, voltou. A morte de um agricultor em um bar da
cidade, foi o desfecho de um bate-boca banal entre beberrões, comuns
na cidade. Será mais uma seção do filme de terror que vivenciamos
em 2011? Pior de tudo é a inércia por parte das autoridades
constituídas.
Quando
pensávamos que estávamos respirando o cheiro das pétalas da paz,
somos surpreendidos pelo odor escangalhado da violência brutal do
homem contra si mesmo. A vida parece uma realidade banal. A violência
“escangalhada”, que já atingiu as diversas faixas etárias e
classes sociais, provoca um sentimento coletivo de abandono, um
clamor popular por justiça e paz.
Ao
experienciar as brutalidades que coincidiram com a morte de tantas
pessoas, aquele povo parece sentir um vazio profundo, onde o “nada”
é o conceito que melhor traduz essa realidade subjetiva que se
universalizou. A experiencia nadificante da morte não abre espaço
para a uma atitude de recomeço na vida daquelas pessoas, pois não
encontram no meio civil um ponto de ancoragem que permita uma
reconstrução dos valores pervertidos dentre esses acontecimentos.
Basta!
Dessa
maneira, resta apenas o apoio eclesiástico para fornecer um
guindaste de ânimo àquelas criaturas, que vivenciam uma realidade
estonteante. A igreja católica ainda é a instituição que agrega
manifestantes para um grito que ecoe para além das margens do
angical. Parece que aquele vilarejo que se formou às margens do
córrego angical, através da produção de cachaça, se transformou
num cenário dos filmes de bang-bang. Qualquer repúdio a essa “seção
da matança” é legitimado pela religião católica, que defende a
vida em plenitude.
Luciano
N. Fernandes
Seminarista
da Diocese de Carolina, 3º ano de Filosofia