Ontem quando escrevia sobre o sentido da quaresma e a Campanha da
Fraternidade, lembrava-me sobretudo das mais de duzentas famílias que
residem no Piquiá de baixo, em Açailândia.
A situação destas famílias é emblemática para compreendermos a crueldade
e a desumanidade do sistema capitalista e como o "espírito deste
sistema", "espírito do capital" se faz presente nas vidas humanas e nas
instituições que tentam conservá-lo.
É bom recordar que quando as empresas siderúrgicas chegaram ao Piquá de baixo, famílias já habitavam há anos neste local.
Eles chegam, se considerando donos, sem nunca terem sido convidados pela
população, prometendo progresso e desenvolvimento, que na prática
significa exclusão e morte para os pobres.
Quantas mortes, quantos acidentes, quantas pessoas estão doentes no
piquiá de baixo, como consequência da grande poluição provocada pelo
progresso dessas empresas?
Decorridos anos, esta população vem lutando para amenizar o problema.
Foram finalmente contagiados pela esperança de uma nova área para sua
moradia. E até hoje, processos, prazos vão passando e as famílias
continuam no mesmo lugar sendo alimentadas de toneladas de poluição,
agora ainda mais agravante com o funcionamento de uma fábrica de
cimento.
Até quando se deve esperar para que as instituições cumpram com sua responsabilidade?
- As empresas siderúrgicas não fizeram a complementação do valor de
indenização do terreno desapropriado (faltam cerca de R$-700.000,00. Em
TAC assinado em maio de 2011 as empresas se comprometeram a fazer essa
complementação uma vez que saísse a sentença definitiva de
desapropriação)
- A prefeitura de Açailândia ainda não aprovou o projeto
urbanístico-habitacional do reassentamento; o próprio Ministério Publico
Estadual enviou uma notificação ressaltando o vencimento de todos os
prazos.
- O Governo do Estado devia comunicar até o final de fevereiro o
resultado de suas mediações em vista da complementação de dinheiro na
construção do bairro (com a participação do SEPLAN e da Vale). Mas até
agora não houve nenhum comunicado.
Até quando? Até quando? Até quando? estas famílias continuarão perdendo
suas vidas numa área tão poluída? É este o progresso, desenvolvimento,
que tanto apregoam?
A Campanha da Fraternidade deste ano, vem nos confirmar, que o ser
humano não é mercadoria. É vida que precisa ser respeitada em sua
dignidade.
+ Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Venha o teu reino.
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