terça-feira, 9 de outubro de 2012

Porta Fidei: um convite a renovar a Igreja pela Fé



 O Papa Bento XVI, em 11 de outubro de 2011, publicou uma Carta Apostólica sob forma de motu proprio (ou seja, por sua própria vontade e iniciativa) para convocar um “Ano da Fé”. A carta, que inicia com as palavras latinas “Porta Fidei” – a porta da Fé – apresenta em quinze pontos os aspectos fundamentais de tal evento, que deverá chamar a atenção dos fiéis católicos de todo o mundo entre 2012 e 2013 para a necessidade de revigorar a adesão à Fé cristã católica, conhecendo-a com maior profundidade e professando-a pessoal e comunitariamente.
Mas, o que é um “Ano da Fé”? Ele vem a ser um período de proclamação pública dos artigos da Fé e de renovado empenho em difundir as verdades neles contidas. Este não é o primeiro a ser convocado, como recorda o Papa (Porta Fidei, n. 4). Já Paulo VI, para comemorar os 1900 anos do martírio de São Pedro e São Paulo, convocara um Ano da Fé para 1967. Na ocasião do encerramento do mesmo, o Papa Montini pronunciou a Profissão Solene de Fé, conhecida como Credo do Povo de Deus.
O Ano da Fé será celebrado entre 11 de outubro de 2012 e 24 de novembro de 2013. A primeira data marca as comemorações do cinquentenário da Abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II e dos vinte anos do Catecismo da Igreja Católica. No mesmo mês será celebrado um Sínodo dos Bispos dedicado à “Nova Evangelização”, ou seja, a “re-evangelização” dos cristãos afastados. A segunda data, Solenidade de Cristo Rei do Universo, é simbólica em si mesma: o Ano da Fé deve proclamar também a verdade do reinado universal de Cristo.
As comemorações que o Ano da Fé pretende açambarcar delineiam o rosto que Bento XVI lhe quer imprimir: uma redescoberta das riquezas do Concílio Vaticano II e sua validade para nossos dias e a necessidade de haurir das fontes da Tradição e do Magistério os conteúdos da Fé para proclamá-los a todos quantos não os conhecem ou os deixaram de lado nas vicissitudes da história, como dois elementos fundamentais para a renovação da Igreja na continuidade com a Tradição e a “reconquista” do espaço perdido no Ocidente nos últimos séculos.
O contexto profundo que motivou o Papa a convocar um novo Ano da Fé pode ser divisado nas entrelinhas do documento: é aquele de um crescente relativismo, que lança dúvidas sobre toda e qualquer forma de verdade, inclusive as imemoráveis verdades da Fé (cf. nn. 2, 8, 12, 15). O terreno no qual se movimentam os cristãos tornou-se movediço: há uma sensação de que se está passando rapidamente do claro-escuro da Fé (que ao mesmo tempo vela e revela a Verdade) ao blackout generalizado das consciências, tornadas opacas e refratárias à recepção da luz dessa mesma Fé.
Em síntese, Bento XVI propõe o Ano da Fé como uma oportunidade de professar, celebrar e testemunhar a Fé (nn. 8-9) perante o mundo pós-moderno, procurando fazer uma experiência firme e profunda com o Cristo Ressuscitado (n. 15), proclamando a beleza de acreditar (nn. 2 e 13) e anunciando com a vida e a prática da caridade a operosidade da fé cristã (n. 14). Este, acredita o Papa Ratzinger, é o caminho para renovar a Igreja, revigorando-a a partir de dentro, de suas convicções mais profundas, de sua própria relação com o Senhor.

 Laersio da Silva Machado
(Artigo preparado para o Jornal do 3º ano de Teologia do IESMA)

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