segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Santa Teresa d'Ávila e São Pedro de Alcântara

Juan Martín Cabezalero, Comunión de Santa Teresa (cerca de 1670)

   As Dioceses de Imperatriz e Carolina possuem uma ligação histórica que é bastante conhecida: a Diocese de Imperatriz foi desmembrada do território da Diocese de Carolina em 1987 por João Paulo II. Mas a relação entre as duas vai além disso... remonta à história de seus próprios padroeiros. São Pedro de Alcântara, patrono da Diocese de Carolina, foi confessor e conselheiro de Santa Teresa de Ávila no início da reforma do Carmelo. Alguns biógrafos afirmam, inclusive, que ele foi o responsável pela obtenção do breve pontifício que autorizou a abertura do primeiro Carmelo reformado, o Carmelo de São José.
   Nas antigas hagiografias de Pedro de Alcântara é relatado um episódio que se tornou clássico, posteriormente, na iconografia do Santo e de Teresa de Jesus: a experiência mística ocorrida durante uma missa celebrada por São Pedro de Alcântara. O quadro acima -  um dos mais belos que representam a cena - expressa com cores vivas o que se narra nos relatos biográficos. Para festejar nossos padroeiros diocesanos, damos a conhecer alguns trechos de um autor antigo sobre o episódio. Um estudo completo, realizado por Salvador Andrés Ordax, que tem por título "Iconografia Teresiano-Alcantarina" (Boletín del Seminario de Estudios de Arte y Arqueología: Tomo 48, 1982, págs. 301-326), pode ser consultado no site da Universidad de La Rioja (em espanhol).
   Eis os trechos:

"Outro dia veio o Glorioso Pai [São Pedro de Alcântara] à mesma Igreja onde aguardava a Virgem Teresa para receber de sua mão ao seu Divino Esposo: e pouco depois chegou Dona Isabel [de Ortega], que estava prevenida para o mesmo: reconciliou o Santo Padre às duas, e depois foi vestir-se para dizer missa para o bom e feliz sucesso daquela Reforma Sagrada, e que assistisse Deus a sua Santa Fundadora.
Saiu para dizer a missa, na qual teve os divinos sentimentos de sempre: ouviu-lhe [a missa] a Santa Virgem com abundantes lágrimas e Dona Isabel da mesma sorte, sendo a oração dos dois Santos igual na petição, como era nos desejos; os que o Santo tinha eram que fundasse sem renda em suma pobreza (como se disse) os quais aprovou o Senhor com um favor, que o fez singular. Quando [São Pedro de Alcântara] deu início a sua Reforma [da Ordem Franciscana] (diligenciando a fundação do primeiro convento, que foi o Pedroso) foi Deus servido de querer assistir-lhe visivelmente na companhia de Nosso Seráfico Pai São Francisco, qualificando as diligências que com a direção do Céu fazia: nesta ocasião se viu quase o mesmo, aprovando os desejos e trabalhos que lhe custava o dar início àquela ilustre Reforma [a do Carmelo, feita por Santa Teresa]; assistiu-lhe o Senhor comunicando-lhe singulares favores com Nosso Pai São Francisco e Santo Antonio de Pádua, que lhe serviam à missa".
"Chegou a hora de comungar, e ao receber ao Senhor a Santa Madre abriram-se-lhe os olhos da  alma para que visse os assistentes daquele Sacrifício, Nosso Glorioso Pai São Francisco vestido de Diácono, e de Subdiácono o Santíssimo Antonio de Pádua, insignes zeladores da pobreza Evangélica, com alvas [i.e., túnicas] mais cândidas que a neve, e dalmáticas de rica tela de glória, com preciosa pedraria, cuja beleza não encontrava comparação; os dois serviam de Ministros do Altar ao Santo Padre [S. Pedro de Alcântara], e os dois como dois sóis resplandecentes, postos de joelhos serviram (com seráfica reverência de acólitos prostrados em terra) ao dar a comunhão à Santa Madre, e ao acabar a missa desapareceram.
Os efeitos que causou este favor no peito da Santa Virgem e no coração do Santo Padre não se podem compreender, porque a própria Santa não o soube depois explicar, deixando favor tão singular sepultado no silêncio, com os demais de que foi testemunha, e este particularmente, porque redundava em crédito próprio tanto como do Santo Padre, porque lhe assistiam como ministros, serviram de acólitos ao dar-lhe a comunhão a ela..."

(Frei Juan de San Bernardo, Chronica de la vida admirable y milagrosas haçañas de el Admirable Portento de la Penitencia S. Pedro de Alcántara..., Nápoles, 1667, p. 601; citados por Ordax, pp.304-306).

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