Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na Liturgia de hoje escutamos estas
palavras da Carta aos Hebreus: “Corramos com perseverança ao combate
proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus”
(Heb 12, 1-2). É uma expressão que devemos destacar de modo particular
neste Ano da Fé. Também nós, durante todo este ano, tenhamos o olhar
fixo em Jesus, porque a fé, que é o nosso “sim” à relação filial com
Deus, vem Dele, vem de Jesus. É Ele o único mediador desta relação entre
nós e o nosso Pai que está nos céus. Jesus é o Filho, e nós somos
filhos Nele.
Mas a Palavra de Deus neste domingo
contém também uma palavra de Jesus que nos coloca em crise e precisa ser
explicada, porque caso contrário pode gerar mal-entendido. Jesus diz
aos discípulos: “Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas
separação” (Lc 12, 51). O que isso significa? Significa que a fé não é
algo decorativo, ornamental. Viver a fé não é decorar a vida com um
pouco de religião, como se fosse um bolo que decoramos com o glacê. Não!
A fé não é isso. A fé significa escolher Deus como critério-base da
vida e Deus não é vazio, Deus não é neutro, Deus é sempre positivo, Deus
é amor e o amor é positivo! Depois que Jesus veio ao mundo não podemos
mais agir como se não conhecêssemos Deus. Como se fosse algo abstrato,
vazio, de referência puramente nominal; não, Deus tem um rosto concreto,
tem um nome: Deus é misericórdia, Deus é fidelidade, é vida que se doa a
todos nós. É por isso que Jesus diz: vim trazer divisão, não que Jesus
queira dividir os homens entre eles, pelo contrário: Jesus é a nossa
paz, é a nossa reconciliação! Mas esta paz não é a paz dos sepulcros,
não é neutralidade. Jesus não traz neutralidade, esta paz não é um
compromisso a todo custo. Seguir Jesus implica renunciar ao mal, ao
egoísmo e escolher o bem, a verdade, a justiça, mesmo quando isso requer
sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide;
sabemos disso, divide mesmo os laços mais estreitos. Mas atenção: não é
Jesus que divide! Ele coloca o critério: viver para si mesmo ou viver
para Deus e para os outros, ser servido ou servir, obedecer a si mesmo
ou obedecer a Deus. Eis em que sentido Jesus é “sinal de contradição”
(Lc 2, 34).
Esta palavra do Evangelho não autoriza o
uso da força para difundir a fé. É exatamente o contrário: a verdadeira
força do cristão é a força da verdade e do amor, que leva a renunciar a
toda violência. Fé e violência são incompatíveis! Fé e violência são
incompatíveis! Em vez disso, fé e fortaleza caminham juntas. O cristão
não é violento, mas é forte. E com qual fortaleza? Com a da mansidão, a
força da mansidão, a força do amor.
Queridos amigos, entre os parentes de
Jesus havia alguns que em certo ponto não partilharam o seu modo de
viver e pregar, diz o Evangelho (cfr Mc 3,20-21). Mas sua mãe sempre o
seguiu fielmente, mantendo fixos os olhos de seu coração em Jesus, o
Filho do Altíssimo, e em seu mistério. E no final, graças à fé de Maria,
os familiares de Jesus tornaram-se parte da primeira comunidade cristã
(cfr At 1,14). Peçamos a Maria que ajude também nós a ter o olhar bem
fixo em Jesus e a segui-Lo sempre, mesmo quando custa.
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