OS EVANGELHOS SINÓTICOS: ALEGRIA DA BOA
NOVA[1]
Luciano Nascimento Fernandes*
No
instante conclusivo deste primeiro ano de experiência com as disciplinas
teológicas, consideramos oportuno partilhar com todos nossas alegrias que, por
vezes, nos deixaram apofáticos diante da grandeza do mistério divino. Porém,
sabemos que estamos apenas no “preâmbulo” desse itinerário.
Nesse
ínterim, asseveramos que nosso afeiçoamento pelas cadeiras de teologia bíblica
foram mais evidentes nesse primeiro momento, a ponto de resultar nesta reflexão
acerca dos evangelhos sinóticos que apresentamos abaixo, servindo de reflexo do
nosso entendimento. Desse modo, procuramos expor uma visão panorâmica dos
evangelhos no sentido de mostrar a teologia predominante e a história da
formação dos textos que chegaram até nós.
Uma boa nova
Há uma acentuada diferença em falar de
Jesus e de Cristo. Aquele é apenas a personagem histórica, enquanto este está
imbuído de toda uma significação mística e teológica, uma vez que Nele se faz
presente o “Messias” esperado pela humanidade. O evangelho constitui a boa
notícia da chegada do Cristo que vai instaurar definitivamente o Reino de
Israel, muito embora, noutro contexto, equivaleria a outros significados no
mundo pagão, como quando se referia à pessoa do imperador, eventos felizes, por
exemplo. Essa expressão não foi usada por Jesus, mas foi extraída certamente da
bíblia grega.
No novo testamento, o evangelho é
fruto do anuncio da ressurreição de Jesus pelos discípulos. Jesus anuncia o
reino de Deus “o anunciador torna-se anunciado e esse ato transforma-se em
texto”. A ressurreição de Jesus é o sinal mais claro da chegada do reino definitivo. Em Jesus, Deus se apresenta como
um Deus próximo. O evangelho tem origem em Deus através de Cristo,
estabelecendo a paz na humanidade, reconciliando os homens com Deus mediante a
salvação última. A ressurreição é o esclarecimento do mistério de Cristo e da
humanidade. A essência dos evangelhos é o mistério pascal, disto resulta a
intervenção de Deus na história em favor dos homens.
Para os primeiros cristãos importava
mais a vivência das palavras de Jesus no meio da comunidade, do que a repetição
destas. A história da formação dos evangelhos segue a via da história ou da
descoberta. As pesquisas exegéticas buscam os textos mais antigos possíveis. Os
relatos da vida de Jesus perpassam a atuação dos discípulos nas comunidades
pregando sua morte e ressurreição. A fé na ressurreição é o elemento fundante,
precede o evangelho escrito; o que seria apenas um acontecimento histórico a fé
reconhece como sendo a intervenção de Deus. A redação dos evangelhos se da em
dois momentos: recordação da vida de Jesus numa sequência de episódios, depois
a montagem; tudo de acordo com o objetivo, o lugar e a teologia de cada
evangelista. Porém a finalidade geral é desvendar e, ao mesmo tempo preservar o
mistério de Jesus Cristo. A pessoa de Jesus constitui a principal fonte dos
evangelhos. O evangelho é uma realidade que necessita ser proclamada porque se
refere todos os homens. O anuncio da boa
nova se propaga na comunidade de Jerusalém e redondezas, de judaísmo puro, e na
Samaria; seguidamente para os povos pagãos, principalmente nas comunidades fundadas
por Paulo. Portanto, formaram-se as comunidades judaico-cristãs, samaritanas e
gentio-cristãs. Certamente o ambiente destas comunidade em que cada evangelista
se encontrava e, as necessidades de cada uma foram fundamentais para a
composição dos evangelhos.
Diversas formas de expressão, estilo e
gêneros literários, além do aspecto sociológico foram determinantes na época de
formação dos evangelhos. Jesus e seus companheiros sendo eminentemente judeus,
certamente vão usar os gêneros literários em voga na época. A maneira de
relatar o milagre é semelhante à literatura judaica e helenística. As parábolas constituem a maneira mais usual
de defender um pensamento no mundo judaico, mas que se difere da alegoria; uma
vez que esta se remete mais, a uma espécie de comparação com a finalidade de
transmitir um ensinamento. Os relatos dos milagres, por vezes, são utilizados
por Jesus no enfrentamento e seus adversários para defender habilidosamente seu
ponto de vista, certamente referente a algum aspecto da escritura. Sinais do
Antigo Testamento também são retomados nos textos dos evangelhos,
principalmente quando do anúncio duma missão por parte de Deus a uma pessoa.
Outro método judaico que influencia na formação dos evangelhos é o midrash (midraxe), uma pesquisa de
elementos da Escritura com a finalidade de atualizar as coisas antigas para o
leitor contemporâneo; exatamente o que faz Mateus, utiliza elementos do Antigo
testamento para elaborar um evangelho num sentido teológico, tendo em vista sua
comunidade de origem judaica. Faz das coisas antigas coisas novas, sem perder o
referencial absoluto. Também não foram descartados elementos do paganismo
(gregos e latinos), na formação, possivelmente do evangelho de marcos; isso é o
que apontam pesquisas mais recentes.
Quanto aos estilos literários
destacam-se o epifânico ou teofânico e o apocalíptico. O primeiro se remete aos
modos de manifestação de Deus, onde Deus se torna presente, provocando temor e
alegria no homem. O segundo exprime a certeza de que Deus é o mestre da
história, que intervém quando necessário para restabelecer a justiça.
Assim, asseveramos que os evangelhos
foram escritos para responder as angustias e perguntas das diversas
comunidades, uma questão de necessidade contextual, seja de pregação, seja de
catequese.
Com efeito, aproveitamos para reiterar
votos de estima a todos. Que o espírito do Menino Deus renove as esperanças de
todos neste Natal para vivermos e convivermos o novo ano que se aproxima
alimentados pelas maravilhosas “alegrias do evangelho”. Pax et fidei!!
[1]Para
verificar a fundamentação teórica Cf. AUNEAU, J; BOVON, F; GOURGUES, M.
Evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos. São Paulo: Paulinas. p. 11-50.
* Acadêmico do
segundo Período do curso de Teologia do Instituto de Estudos Superiores do
Maranhão e, seminarista da Diocese de Carolina-MA.
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