Imagem de São Pedro de Alcântara (parte inferior)
na Basílica de São Pedro no Vaticano
Santa Teresa d'Ávila deixou-nos um belo retrato da santidade de seu
confessor e conselheiro, São Pedro de Alcântara. Neste dia dedicado ao
padroeiro da Diocese de Carolina, que já foi também padroeiro do Império
do Brasil, reflitamos sobre o seu exemplo de penitência e humildade.
SANTA TERESA DE JESUS - LIVRO DA VIDA (Cap. 27, 16-20)
E que bom modelo Deus nos levou agora no bendito Frei Pedro de
Alcántara! O mundo não consegue suportar tanta perfeição. Fala-se que a
saúde está mais fraca e que são outros os tempos. Esse santo homem viveu
nesta época, mas o seu espírito era vigoroso como nos outros tempos;
ele tinha o mundo sob os pés. Mesmo que não andemos descalços nem
façamos penitências tão duras quanto ele, há muitas coisas, como eu já
disse outras vezes, com que se desprezar o mundo; quando vê disposição, o
Senhor as ensina. E que grande coragem Sua Majestade [i.e., Deus] deu a
esse santo de que falo, que, como todos sabem, fez durante quarenta e
sete anos uma áspera penitência! Quero dizer algo sobre isso, pois sei
que é pura verdade.
Ele me contou, e aoutra pessoa, para a qual não tinha segredos
(quanto a mim, a causa de me dizer foi o amor que me tinha, amor que o
Senhor nele inspirou para que cuidasse de mim e para me animar num
momento de muita necessidade, como eu disse e direi): pelo que me
lembro, ele disse que por quarenta anos dormiu apenas uma hora e meia
por dia. Contou que no início a sua maior penitência foi vencer o sono e
que, para isso, ficava sempre de joelhos ou de pé; quando dormia, era
sentado, com a cabeça encostada a um pedaço de madeira que tinha pregado
na parede. Ainda que quisesse, não podia deitar-se, porque a sua cela,
como se sabe, não tinha nem um metro e meio. Em todos esses anos, nunca
se cobriu com um capuz, por mais fortes que fossem o sol ou a chuva,
nunca cobriu os pés e só vestia o corpo com um hábito de saial sem nada
mais sobre a carne. Tratava-se de um hábito bem apertado, por cima do
qual ele usava um pequeno manto do mesmo pano.
Ele me contou que tirava o manto quando fazia muito frio e deixava a
porta e o postigo da cela abertos, a fim de que, pondo depois o manto e
fechando a porta, o corpo fosse contentado e ficasse sossegado com algum
abrigo. Ele costumava comer somente de três em três dias, afirmando
ainda que isso não era motivo de espanto, por ser muito possível a quem
se acostumasse. Um companheiro seu me contou que ele às vezes passava
oito dias sem comer. É provável que isso ocorresse quando ele estava em
oração, porque tinha grandes arroubos e ímpetos de amor de Deus, como
testemunhei certa feita.
Era extrema a sua pobreza; na mocidade, foi tamanha a sua
mortificação que, segundo me contou, aconteceu de passar três anos numa
casa de sua Ordem sem conhecer nenhum frade a não ser pela fala; porque
jamais levantava os olhos. Ele não conhecia os lugares a que por
necessidade tinha de ir, pois seguia os outros frades - e isso por
muitos anos. Disse-me que pouca diferença fazia para ele veer ou não
ver; mas era muito velho quando o conheci, e tão extrema a sua fraqueza
que parecia feito de raízes de árvores.
Com toda essa santidade, era muito afável, se bem que de poucas
palavras, a não ser quando falavam com ele. Sua conversa era muito
agradável, por ser grande a sua compreensão. Quisera dizer muitas outras
coisas, mas tenho medo de que vossa mercê [o leitor] pergunte por que
me intrometo nisso, e foi temerosa que o escrevi. Concluo, pois, dizendo
que o seu fim foi como a sua vida; ele morreu pregando e admoestando os
seus religiosos. Quando viu que tinha chegado a sua hora, disse o salmo
LAETATUS SUM IN HIS QUAE DICTA SUNT MIHI (Alegrei-me com o que foi
dito) [Sl 121,1] e, de joelhos, expirou.
Depois disso, o Senhor tem permitido que eu tenha mais ajuda dele do
que tive em vida; ele me aconselha em muitas coisas. Vi-o muitas vezes
com imensa glória. Da primeira vez em que me apareceu, ele me disse que
fora feliz a penitência que lhe granjeara tamanha recompensa, e muitas
outras coisas. Um ano antes de morrer, ele me apareceu, embora estivesse
ausente. Assim, eu soube que ele havia de morrer e mandei que o
avisassem, estando ele a alguns quilômetros daqui. Quando expirou, ele
me apareceu e disse-me que ia entrar em seu descanso. Eu não acreditei e
contei a algumas pessoas; oito dias depois, chegou a notícia de que
morrera, ou, melhor dizendo, começara a viver para sempre.
Eis acabada essa vida tão áspera com glória tão imensa. Acho que
agora ele me consola mais do que quando estava aqui. O Senhor me disse
uma vez que concederia em nome desse Santo tudo o que Lhe pedissem.
Muitas coisas que lhe encomendei que pedisse ao Senhor vi ser
realizadas. Bendito seja para sempre, amém.
Grande Santo!!!!
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